terça-feira, 9 de agosto de 2016

eu fecho nada











não
não me importo com a baba do beijo
pela baba do beijo a vida derrama
segredos
fechamos olhos ouvidos

eu fecho nada

e a vida derrama segredos e ossos
faz manutenção em milagres que
jamais serão percebidos
bate portas janelas gavetas pregos
crucifixa ideias pragmáticas
é franca a baba do beijo é bruta
bate palmas dentes carros navios
crucifixa casais do mimetismo

eu fecho nada
a baba do beijo é arma transorbital








sexta-feira, 13 de maio de 2016

dá-me três revelações




eu busquei a montanha
dei-me por mato
tornei respirar
me dobrei com o vento
ouvi a queda de uma figueira
não só a queba
havia do mais para ser ouvido
então fui ser ouvido
me fiz minhoca
alcancei e resumi a busca
me tornei a espessura da coisa que eu sabia!
há muito me procurava











domingo, 26 de abril de 2015

pluma no dente da frente






não se pode ver a vida que se leva nos próprios dentes
em seguida
não se pode afogar uma pluma
em seguida afoga-se o ganso pela mentira mais costumeira
sejamos felizes um pelos outros
em seguida a jaula do tigre albino com um esquilo nos caninos








domingo, 5 de abril de 2015

Anódino Crer




eu amo
adoto amando
amo adotando nomes
eu tinha uma espingarda de páscoa
atirava em ovos
hoje eu amo
boto amando
mas já me apaixonei por teses
eu tinha uma cruz para usar na páscoa
colava minha cara na rede
mirava um furo
atirava em réstias
ficava com a cara pieddepoule
boto amando
eu tinha uma vez
eu amo e tinha esse nome que me perseguia
de ovo em ovo no jardim de farinha
volta Guilherme

guardei uma tese entre as tuas cuecas branquinhas




terça-feira, 7 de outubro de 2014

Sempre






Sempre me preocupei
Perfeitamente
Ensaiada
Preocupa-me tanto
A cor da toalha de rosto no lavabo central
A ordem dos talheres e a dos dedos dos pés
O comprimento da anágua
É tanto que me preocupo
Que por vezes me esqueço
De ajeitar o saco
Coçar o cu
Cheirar o medo
Cagar pra você



quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Laureando






Madama mandou enfeitar o meu pós-guerra.
Prataria, lustres, cartolas para lustrar.
A voz de madame urge num tempo que não sobeja.

Então apanho uma boa fatia de pudim, com a mão mesmo, e digo: Ô madame, olha lá, tem um boi cagando no topo daquela cartola! Tem um mosquito no teu penteado e tem terra nessa tua maquiagem!



domingo, 10 de agosto de 2014

atrevimento






Atrevo-me a dizer que este cavalo não está de fato bem selado.

E o senhor desce de seu cavalo, verifica a cela e torna montá-lo grunhindo: De fato, minha cara, o cavalo não estava bem e continua mal selado.  É um reacionário, eu diria, pensa ser uma lhama. Cospe o caminho todo.